A cada final de ano, costuma-se elaborar mentalmente e até por
escrito listas de promessas para o ano vindouro. Nessa ocasião,
afirma-se a amigos e familiares que se vai começar uma dieta, adotar a
prática de exercícios físicos, parar de fumar ou beber ou, ainda,
dedicar-se a um projeto empresarial ou profissional. Enfim, muitas
pessoas se comprometem a finalmente arregaçar as mangas e corrigir
aspectos de sua vida que precisam ser mudados.
Seguros e bem
intencionados, respeitáveis cidadãos estabelecem metas e até tentam de
bom grado alcançá-las. No entanto, embora haja exceções, a maioria não
revela força de vontade suficiente para levar a bom termo as promessas
de Ano Novo e logo se vê novamente absorvida pelo velho e surrado
cotidiano. Acomodam-se. Tais casos demonstram que a decisão de mudança
se determinou apenas pelo fator circunstancial da passagem de ano.
Nessa
situação, o abandono dos objetivos estabelecidos indica a ausência do
substrato da intenção mais profunda. Refere-se aqui à intenção que tem
origem numa conscientização mais ampla da necessidade de transformação,
nascida de um processo de reflexão que pode até ser involuntário, mas é
consistente. Essa intenção se assenta solidamente arraigada no
inconsciente do indivíduo e passa a definir todas as suas atividades
posteriores.
O fato é que quando, em virtude da reflexão, a conscientização amadurece, consubstancia-se na mente a intenção. Então, o inconsciente passa a trabalhar de sobreaviso quanto ao fim estipulado, de modo que, mesmo quando absorvido por outros interesses, o cérebro continua a registrar em função daquele objetivo. Dessa forma, mantém-se uma permanente corrente energética voltada para o alcance do desiderato em torno do qual gira a intenção.
É aí que se revela o poder da intenção, o estado mental orientado a concretizar, manter ou evitar certas condições. Nessa firme aplicação do espírito, a pessoa se propõe algo e sabe, ainda que instintivamente, que vai realizá-lo; não importa os empecilhos que se interponham ao longo do caminho – realizá-lo-á. Isso porque já não se trata de um mero desejo ou promessa, mas de uma estável resolução de se empenhar pelo resultado almejado.
Em verdade, todos utilizam o poder da intenção em muitas ocasiões, embora com frequência de maneira intuitiva. Nesses casos, entra-se em correspondência com a inteligência vital e se põe a operar um impulso da própria energia primordial, a mesma que criou as células e mantém o universo em perfeita ordem. É por isso que a superação de dependências físicas e psicológicas e a consecução de metas aparentemente inalcançáveis se viabilizam.
Portanto, a intenção – não uma disposição superficial – pode constituir um meio de conexão com a fonte da criação. Essa fonte, sem a qual o próprio cosmo desmoronaria, pode-se denominá-la como queira, Deus, espírito, inspiração, não importa, o que conta é que se tome a intenção como uma interface com o todo. Somente a partir dessa sintonia se podem converter promessas propaladas ao vento em determinações lastreadas em sólida intenção.
Advirta-se, contudo, que não se trata de esperar o auxílio de alguma força sobrenatural, mas de um tino sincero. Ou seja, é preciso ter um discernimento que dissipe a negatividade e acolha a isenção e a gratidão. Também se fazem essenciais a generosidade e a cooperação, enfim, dar o melhor de si a cada instante, entregar-se ao máximo a cada ser com quem interagir, desinteressadamente, para que possa emergir o estado natural do ente humano.
Atendidos a esses requisitos, o que significa instituir a ordem interior e exteriormente, o caminho estará preparado. Mas isso exige muita reflexão, investigação de si mesmo, descoberta e compreensão, pela qual se desanuvia a percepção, permitindo-se a conexão com a fonte e a liberação do poder da intenção. Assim, livre dos obstáculos da negatividade, a energia flui livremente e conduz à realização, não de sonhos, mas da vida em plenitude.
(Texto escrito por Tasso Assunção, escritor e consultor em produção textual; membro fundador da Academia Imperatrizense de Letras - AIL)